terça-feira, 21 de julho de 2009

PARA CHICO NA FLIP: FALEM MAL, MAS FALEM DE MIM

Soube através da mídia, e por outros meios (como no boca a boca) que esta rolando uma polêmica em torno de CHICO BUARQUE DE HOLANDA e sua obra literária. Especificamente, depois de marcar presença na FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty), onde recebeu criticas ácidas (desnecessárias?) de todos os lados.

Uma delas foi de Ednabrien, escritora irlandesa (o seu ultimo romance foi Dezembro Selvagem, na qual retrata conflitos sociais e morais na sua terra natal), que chamou o Chico de "fraude", alem de dizer que se espantou com o desconhecimento literário de Chico.

Por outro lado, Chico, em uma das rodas de entrevistas, uma na qual estava presente Milton Hatoun, disse que "escrever é uma chatice".

Desde o inicio do mês, quando ocorreu a feira, até hoje, ainda ouço críticas pouco produtivas em relação ao Chico. Em uma reportagem, Arthur Xexéo afirma: "O Chico é um bom escritor compondo música, e um péssimo compositor escrevendo". Essa foi a tônica de todas as críticas em relação á obra literária de Chico: ele não serve pra ser escritor. E ainda disse mais: que quem esta no universo da música jamais poderá escrever uma obra comparada á um escritor de vanguarda, assim como um excelente escritor em momento algum chegará aos pés de um excelente compositor.

Tudo bem, Chico não é nenhum gênio da literatura (comecei á uma semana com Leite Derramado, e verifiquei isso). Não chega realmente aos pés de Machado de Assis, que considero se não o maior, um dos maiores romancistas em língua portuguesa. Ele tem apelo midiático, o que ofusca um pouco o brilho da sua capacidade de perceber fenômenos, sobretudo com o ser humano. Alem disso, ele sabe muito bem que esse apelo midiático (que de certa forma, obriga o escritor á produzir, mesmo não querendo) transforma uma simples analise contextualizada e obriga á transformar em um "best seller". Deve ser por isso, que ele disse que escrever (provavelmente deveria ter posto a palavra "sempre") é uma chatice (sobretudo para atender á demanda de mercado, o que não tem nada á ver com inspiração literária).

Quanto ás críticas de sra. O´brien, tenho certeza absoluta que foram completamente descontextualizadas, sem senso nenhum e até provocativa (o que não é de todo ruim). Chamar Chico de farsa é no mínimo falta de bom censo (ela não deve conhecer Paulo Coelho e nem Zibia Gaspareto). Como eu disse, o Chico escritor merece um "empurrãozinho", enquanto o compositor é simplesmente fantástico. Mas ninguem, por mais moralista que seja (que acredito realmente que essa senhora seja) pode classificar publicamente o outro, sem uma prévia avaliação (veja: ela conhece a obra dele, mas não conhecia o autor até a ultima edição da FLIP). Quando ela diz que ficou decepcionada quanto á bagagem literária de Chico, isso com certeza não é parâmetro para classificações. Tenho certeza que as novas levas de excelentes escritores chineses, iranianos e africanos, não são necessariamente PHds em literatura universal, simplesmente tiveram boas inspirações e puseram tudo aquilo no papel.

Por último, quero lembrar aqui que, aqueles que pensam que um compositor não pode escrever um bom livro, e virce-versa, então que procurem saber sobre Jorge Maltner e seu mais disputado trabalho, o livro "Deus da Chuva e da Morte"e Caetano Veloso com "Verdade Tropical" (também impossível de ser encontrado). O único que é a decepção dessa lista é o acadêmico (juro que não sei por que) Paulo Coelho (com muitas musicas interessantes, em parceria com Raul Seixas, mas com sua grande lista de livros "esotéricos" de uma pseudo-auto-ajuda de baixa qualidade).

Se no Brasil, pessoas que lêem Zibia Gaspareto e Paulo Coelho (te garanto que não são poucas), não fazem críticas contundentes, então por que massacrar o livro do Chico?

Enfim, parece que no mercado editorial, mais vale a seguinte máxima popular: falem mal, mas falem de mim........

sexta-feira, 5 de junho de 2009

O MITO DAS TRÊS RAÇAS E AS COTAS NO BRASIL DE HOJE

Não sou um expert em marketing político, mas o pouco que sei é que todos os políticos, desde partidos de "esquerda" até os mais liberais usam de uma retórica no mínimo envolvente, e em envolta de demagogias.

Uultimamente o que tenho visto de opiniões relacionadas as politicas de ação afirmativa aplicadas pelo governo é uma enxurrada de retórica politicamente correta, desde os políticos de carteirinha até aqueles cidadãos que são politizados (jornalistas, sociólogos, entre outros formadores de opinião).

Aqueles que são contra essas políticas, em sua grande maioria dizem que o governo não pode criar uma politica de reparação histórica baseada no conceito de "raça". Dizem também que a política ideal é a melhoria do ensino público básico, e consequentemente, a possibilidade de abertura das universidades para mestiços, negros, carentes entre outros que estão á margem da educação superior no Brasil.

Oras, concordo plenamente com esses argumentos. O primeiro argumento é fruto do histórico ideário do "Mito das Três Raças", na qual a capacidade lógica portuguesa, a sabedoria indígena e a força negra miscigenadas poderiam construir uma grande civilização brasileira.

Esse conceito, de que o Brasil é um país perfeito e que todas as raças convivem pacificamente não passa de um mito. Não é real a história de que negros ou mestiços não são discriminados, não é real a história que houve integração das diferentes populações indígenas e também não é real a história que somos um país 100% mestiço (culturalmente pode ser, mas etnicamente tenho certeza que não).

Quando se fala no conceito de raça, estamos falando de um conceito completamente ultrapassado, e completamente combalido da moderna sociologia e antropologia. As políticas de ação afirmativa estão baseadas em conceitos integrais de "grupos étnicos e culturais", que é bem diferente de raça.

Quanto a melhoria do ensino publico básico, sabemos todos nós, que essa é a retórica mais antiga (se eu não estou enganado, desde o Estado Novo dizem que é importante melhorar a educação básica no Brasil). Oras, não passa de pura demagogia: não querem melhorar, e não tem interesse político para isso.

Portanto meus caros amigos, governo algum pode fechar os olhos e fingir que não existe abismos sociais que herdamos desde a escravidão. E no mínimo sensato aplicar políticas de ação afirmativas, e esquecer que o mito das três raças de nada ajudou os que estão á margem da educação superior no Brasil.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

ONDE FOI QUE ERRAMOS???

Todo país, toda cultura e todo povo tem determinados traços e caracteristicas implícitas ou explicitas na qual em seu conjunto caracteriza esse povo ou país.
Tirando a ideia contraditória (e até mesmo hipócrita) de que não podemos definir um determinado povo por suas práticas e expressões culturais (como é corrente entre a antropologia contemporânea, sob o estigma de cair em determinismos culturais), é unâmine entre sociólogos e antropólogos atuais que toda cultura ou sociedades tem suas singularidades, algumas impostas (como Edward Said, já afirmara), e outras existentes desde a essência dessas sociedades.

Max Weber, em seu estudo mais prodigioso "A ética protestante e o espírito do capitalismo" faz uma analise minuciosa dos padrões morais e éticos das sociedades da época (sobretudo europeias, católicas e protestantes) e as relaciona com a estrutura produtiva e a forma com que essas sociedades lidam com o trabalho, acumulo de capital, entre outros. Chega a conclusão de que as manifestações culturais, sobretudo a religiosa, influencia enormemente na forma de como lidar com os fatores do novo capitalismo, e conclui que, mesmo no microcosmo europeu, existe uma grande diferença na forma de lidar com isso.
Ele entendeu que por um lado a sociedade católica da época tinha em seu ethos a ideia de "salvação divina" pela caridade e benevolência com o próximo, buscava cada vez mais terras para agregar ao patrimônio da igreja e condenava o acumulo de capital, os protestantes acreditavam que o trabalho dignificava o homem, não condenavam o acumulo de capital e viam como aliados a burguesia. Esses ethos opostos (católico x protestante) influenciou radicalmente a forma como o capitalismo se consolidou na Europa e EUA.


Portanto, quando nos perguntamos : caramba, por que nós, e o nosso país é assim? Deveríamos nos reportar ás nossas origens de consolidação como sociedade e entender as nossas problemáticas atuais. Não se trata de determinismos (tipo, se um povo é assim será para sempre assim) ou de uma caça ás bruxas histórica (procurando nomes, e quem sabe, relacionando com alguns políticos atuais). Trata-se de um exercício de reconhecimento dos erros históricos, e quem sabe, com eles, aprendermos a moldar uma sociedade melhor.

Deixamos de ser egocêntricos, e reconheçamos os nossos erros. Murilo de Carvalho, um dos grandes nomes da historiografia brasileira e imortal da ABL, diz que nossos "vícios" são inerentes as nossas origens, e remontam a formação das monarquias ibéricas, sobretudo quando falamos de questões como a diferenciação do público e privado, da ênfase no direito da propriedade (civil) em detrimento do direito individual e o patrimonialismo estatal. Sérgio Buarque de Holanda, em "As raízes do Brasil" (1995, Comp. das Letras) indica no sentido que desde as monarquias ibéricas, o ethos de pater familis (algo no sentido de uma grande família) aparelharem a estrutura estatal portuguesa foi trazido para o Brasil, e perdurou todo período colonial. Esses círculos familiares criaram um vinculo tênue entre as suas famílias e o estado, passando pelo poderio dos senhores de engenho até os barões do café. Essa concepção patrimonialista mesclou e em alguns casos até inverteu o sentido do público e privado: o agente publico utilizava a estrutura publica como se fosse uma extensão de sua propriedade.

Nesse sentido, perduram até hoje vícios antigos de nossa sociedade. E reconhecendo os erros de "brasileiros", e somente assim, nos tornaremos melhores como seres humanos e sociedade.

O POR QUE DISSO?

Nesse mundo pós-contemporâneo em que vivemos, a palavra informação esta se tornando cada vez mais subjetiva: pode significar desde uma simples dica de como ir á um banco, escola ou algo parecido até um alto segredo corporativo, capaz de afundar ou solavancar qualquer empresa ou até mesmo estados.

Foi criado o chamado "poder da informação" (não me pergunte quem criou), algo como uma retórica conspiratória, que soa como se o universo tramasse contra que detiver essa informação, podendo ser a velha da esquina, o médico que me atendeu ontem, a gata que conheci na lapa semana passada, ou até mesmo minha mãe ou meu pai.

Parei e pensei: oras, ao invés de alimentar essa ideia panóptica e até bigbrotheana de "poder da informação", por que não criar desmitificar essa paranóia e dizer "transparência da informação" ou "informação transparente".

Isso mesmo: dizer para todos o que penso, o que faço, o que acho melhor ou pior (sem ser politicamente correto ou ser panfletário de mais), essas são as minhas boas intenções (o inferno esta cheio, então trago pro mundo virtual).

Isso tudo não vem do nada. Acredito que falando o que penso, e abrindo espaço para debates, e tudo mais, estou reforçando outro conceito que insistem em dizer que é subjetivo, mas ao que me consta é bem real: democracia, participação democrática, transparência de ideias..... Tenho certeza que tudo isso não combina em ocultar informações devido ao "pode da informação". Pelo contrário: trata-se de cidadania efetiva, expor ideias (sem pré-conceitos) e debatendo com quem quiser......